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Virgens Kamikazes é um termo fantasia para designar toda a produção publicada neste site e no blog correspondente. A escolha se revelou afortunada, visto que me proporcionou facilidade no sistema de busca do Google, que é o mais usado.
O projeto começou com a intenção de se fazer histórias em quadrinhos. A partir daí, vieram os embates com as condições materiais. O intuito inicial era o de fazer uma hq no estilo shoujo (histórias em quadrinhos japonesas produzidas em geral para o público feminino no Japão) com uma temática de drogas: cinco pré-adolescentes gaúchas passariam o enredo experimentando drogas injetáveis.
O problema com a produção se revelou desde o começo: para se produzir uma hq shoujo de padrão profissional, é necessário treino (se condicionar ao estilo pré-estabelecido pela indústria), além de um emprego de uma equipe de ajudantes. Isso estava fora do meu alcance, de forma que a parte do desenho foi adaptada de acordo com as seguintes condições:
1) de cinco foram reduzidas a três personagens. Três é um bom número para compor uma hq.
2) o estilo shoujo foi abandonado para um desenho mais livre, que pudesse ser bem sintético e que pudesse ser simples o suficiente para que eu pudesse fazer com qualquer material e qualquer papel e de primeira, ou seja, sem a necessidade de ter que fazer diversos rascunhos antes de se chegar ao original.
3) preto e branco. Na verdade, essa foi uma condição essencial desde o princípio, e um fator que favoreceu muito a escolha do estilo japonês: o preto e branco favorece, em termos de custo e qualidade, uma eventual tentativa de impressão.








As três personagens que eu criei foram uma concepção estereotipada que eu tenho de uma garotinha gaúcha de cinco anos. Isso não se desenvolveu num problema muito grande, uma vez que o que importa é que elas sejam sintéticas. O modelo é o mesmo, só muda o cabelo e as roupas. Nas versões coloridas, que vieram muito depois após o desenvolvimento do blog que seria o embrião deste site, existe uma diferença de coloração dos cabelos e dos olhos.
A intenção de se fazer personagens genéricas e sintéticas foi o de focar o roteiro e a composição: uma história em quadrinhos não é só o desenho de uma quadro após o outro. Existe a parte literária, que exige alfabetização, e a parte da composição das páginas, onde vários quadros se unem para formar uma narrativa. Também queria que as histórias fossem interessantes pela sua qualidade estética, e não por causa de uma fetichização de personagem – fator exaustivamente utilizado nos quadrinhos atuais, onde alguém lê por que quer saber apenas do personagem do qual sente alguma ligação fetichizante (tipo novela televisiva), e não por causa da qualidade crítica do roteiro ou da composição.









A escolha de “crianças de cinco anos” para representar o sujeito da minha produção não foi por acaso: é mais fácil desenhar crianças. Além do mais, existe uma flexibilidade maior em termos de adaptação de roteiro para personificações mais diversas com crianças, não sei por qual razão (talvez porque as pessoas sejam mais perdoáveis com crianças do que com adultos?).











Como existe o sujeito, logicamente existe o objeto. Nessa produção, esse objeto é a própria sociedade capitalista. Esta é representada visualmente por uma massa de pessoas anônimas e por linhas retas e curvas. A cor é utilizada em casos especiais, como por exemplo no projeto Paraíso (em breve lançarei-o aqui) ou no pré-histórico A Saga do Peixe Leão. Em ambos os casos, a cor exerce função semântica na hq e, sempre que eu me dou ao trabalho extra de ter que colorir, eu busco ter uma certeza razoável de que ela será relevante na narrativa e na composição. Existe uma excessão quanto ao que eu tratei até agora, e é a seguinte personagem:















A Pandora seria apenas uma aparição especial na série "Holanda: a terra de ninguém", uma hq sobre um mundo pós-apocalíptico assolado pelo aquecimento global. Com o passar do tempo, eu passei a utilizá-la em várias hqs. Primeiramente eu a desenvolvi como a representação da transcendência tanto do sujeito quanto do objeto. Ela nasceu de uma pequena mitologia que eu criei dentro da minha cabeça, onde um demônio (demônio nos moldes cristãos) teria uma filha com uma mulher humana. Como resultado, ela ganharia a aparência, um corpo humano e a imortalidade e onipotência do diabo. Deixando essas bobagens de lado (após a reformulação das VK), ela passou a representar aquilo que deveria ser ou então aquilo que ainda vai ser. Nesta nova etapa ela é a antropomorfização da ideologia e da força revolucionária: a Esperança. O demônio de um (a classe dominante, os reacionários) é o deus de outro (da classe explorada, os revolucionários). Ela é a concretização do processo histórico e o seu desenvolvimento das forças produtivas que a compõe - que não é de forma alguma a utopia (como alguns pós-modernos rapidamente suporiam), mas sim a síntese dialética da história humana no período que vivemos atualmente.
Dessa forma, se você quiser entender a produção contida neste site e no blog por um prisma mais particular do seu autor, pense o seguinte: na terra, as três garotas (que não têm nome, identidade e nem sexo definido; representando diversos personagens) e o mundo (a sociedade do capital); no céu, percorrendo as eras e os lugares, a minha quarta personagem, "o fantasma do Comunismo", Pandora. Aproveitem.