São Paulo: a cidade dos shoppings

Parte 1:

Sobre "No instituto Max Planck"

Uma rápida explicação sobre essa hq: ela foi a segunda que eu fiz das Virgens Kamikazes, coincidiu com a minha decisão de me libertar desta questão de tempo-espaço que havia planejado inicialmente. Bem no estilo desenho animado, passei a colocá-las nas mais diversas situações. "Vou pra Porto Alegre" foi feita no meio de agosto do ano passado (2009).

"No Instituto Max Planck" a minha vontade era a de retratar um aspecto, certamente estereotípico, que veio se perdendo com o tempo, mas que eu realmente tenho, que é o de que o povo alemão tem tradição nas "ciências duras" como a física, a química e a matemática. O próprio Max Planck ganhou o Nobel de física em 1918.

Também tem um marcador da atual cultura alemã, que é a "americanização" dos nomes: eu não sabia quando eu fiz esta hq, mas eu descobri que é muito comum hoje em dia os alemães darem nomes ingleses aos seus filhos, como um sinal do moderno e do cosmopolita. Fiquei chateado pois eu queria elevar a cultura alemã.

A questão é essa: eu peguei os nomes das meninas para essa história de jogadoras da seleção alemã de vôlei, que por sinal é composto por mulheres muito jovens. O primeiro nome da levantadora, Kathleen, creio eu que seja inglês (se não for, retirem o que eu escrevi no parágrafo acima), acontece que, como o alemão e o inglês são idiomas irmãos, eu achei que poderia ser germânico.

Só por curiosidade: dra. Kathleen Weiss é o nome da levantadora, Sabrina Ross é o nome de uma reserva, Anne Matthes é o nome de uma outra reserva, Kerstin Tzscherlich é o nome da líbero, Sarah Petrausch é o nome de uma outra reserva e Anja Brandt é o nome de outra reserva (até 2009). Peguei tanto o nome quanto o sobrenome para não ter erro.

Uma brincadeira que eu resolvi testar foi a mudança da grafia das palavras portuguesas para uma mais alemã. Esta foi uma forma que eu encontrei para mostrar o orgulho que as personagens tem de serem alemãs.

O Instituto Max Planck realmente existe, está em Munique (o de física), e a minha representação é simbólica, o que significa que eu não sei como ele realmente é. Como eu nunca entrei lá, obviamente que as instalações são representações que o meu imaginário e a cultura na qual estou inserido construíram dentro daquilo que eu podia fazer.

Este é um aspecto importante de qualquer tipo de desenho ou hq ou obra de arte: tudo aquilo que a gente desenha ou escreve (roteiro) é fruto de uma cultura, que implica em preconceito e preceitos que talvez uma pessoa de outra época ou parte do planeta não entenda. Uma história dos Watchmen com certeza não será entendida por uma pessoa daqui a 100.000 anos, tenha certeza disso. Por isso eu, na hora de retratar coisas que eu nunca vi, dou preferência a representações claramente "falsas", ou seja, que se distancie do verossímil; é uma tentativa de fazer o leitor pensar: ok, isso não é "real", deve ser outra coisa. Eu acho que essas representações mais inverossímeis de coisas que existem ou que possam existir exercita mais a imaginação e, por que não, a criatividade do leitor, mas pode ser que eu esteja enganado é claro.

                    Seleção alemã de 2009. fonte: Volleyball-Verband.de (federação alemã de vôlei)

No site oficial não tem a numeração e eu não consigo ver os rostos das jogadoras, mas vocês podem pesquisar. Fica aí a minha singela homenagem à seleção alemã feminina de vôlei! 

No Instituo Max Planck


Parte 1:



No Istituto Max Planck parte 2

Parte 2:

No Istituto Max Planck parte 3

Parte 3: Notaram essa tirinha preta em algumas páginas? é que as páginas não são exatamente retangulares.


Sobre "Vou pra Porto Alegre"

A ideia de criar uma hq em preto e branco no estilo mangá começou quando eu estava no Youtube vendo alguns vídeos de aberturas de animes e tokusatsus em diversos idiomas; eu queria ver como era a dublagem ao redor do mundo.

Eu estava vendo, se não me engano, a abertura de um anime chamado Pretty Cure em alemão quando eu vi um comentário de uma menina alemã de uns 14 anos. Cliquei no usuário dela e, naquele espaço onde você pode colocar uma foto ou imagem qualquer que te represente (no canto superior esquerdo), eu vi um daqueles desenhos no estilo shoujo (mangá feito para menininhas), com aqueles olhos grandes e jeito delicado; só a título de curiosidade, o desenho tinha sido feito pela própria usuária, a mão.

Como eu queria fazer uma hq e viver disso, resolvi então apelar para a produção de algo mais comercial, porém  do meu jeito. Shoujo era o que estava na moda e preto e branco porque era mais fácil de fazer e mais barato na hora de imprimir os fanzines. Surgiu uma ideia que parecia bem redondinha na minha cabeça: meninas shoujo em situações mais grotescas.

Outra ideia inicial que eu tinha era o de fazer o traço dessas menininhas delicadas com a pena de madeira, pois eu acabava de ler um álbum de Cláudio Seto (Flores manchadas de sangue) onde ele conta como ele desenvolveu o seu traço para as histórias de samurai: com a pena de madeira, que dá uma linha mais orgânica e rude do que a fina, sutil e precisa linha da pena de metal. Era uma ideia de contraste, queria que o leitor estranhasse aquele desenho bruto para a representação de figuras delicadas.

A teoria foi por água abaixo logo na primeira página: eu não tinha tempo para fazer o rascunho, criar os moldes das personagens para só depois passar a nanquim. Outra coisa: eu tentava e tentava e não conseguia fazer este bendito traço shoujo; como vocês podem ver, em algumas páginas onde aparecem torcedores do Inter com rosto, nota-se claramente a minha fracassada tentativa de fazer o estilo mangá. Esquece, desisti logo na história seguinte, que seria "No Instituto Max Planck" (que seria feita mais na pressa ainda).

Para uma história inicial, eu resolvi unir aquilo que a maioria dos brasileiros gostam: futebol. Esse negócio de elas serem gaúchas também era um must que eu já tinha em mente: na verdade, a vontade era a de que todas as histórias fossem no Rio Grande do Sul, e que elas tivessem nomes fixos. Posto em outro dia sobre esse assunto dos nomes.

Nessa história, basicamente eu faço uma espécie de coletânea dos cânticos do Inter (tem mais, só consegui por alguns), que marcam o tempo e o clima do jogo, ou seja, o foco é na torcida, ao invés do jogo ou do time. Eu fiz um final bem comum, que são os comentários dos torcedores pós-jogo, porque eu acredito que uma hq deve ser lida pelo começo e pelo meio também, não apenas para aguardar a sacada final que geralmente causa um riso.

Em resumo, trata-se de uma hq que narra um dia de domingo comum de um porto-alegrense, cujo único estranhamento é o fato de ter sido protagonizado por três gurias de cinco anos.