Sobre "Vou pra Porto Alegre"

A ideia de criar uma hq em preto e branco no estilo mangá começou quando eu estava no Youtube vendo alguns vídeos de aberturas de animes e tokusatsus em diversos idiomas; eu queria ver como era a dublagem ao redor do mundo.

Eu estava vendo, se não me engano, a abertura de um anime chamado Pretty Cure em alemão quando eu vi um comentário de uma menina alemã de uns 14 anos. Cliquei no usuário dela e, naquele espaço onde você pode colocar uma foto ou imagem qualquer que te represente (no canto superior esquerdo), eu vi um daqueles desenhos no estilo shoujo (mangá feito para menininhas), com aqueles olhos grandes e jeito delicado; só a título de curiosidade, o desenho tinha sido feito pela própria usuária, a mão.

Como eu queria fazer uma hq e viver disso, resolvi então apelar para a produção de algo mais comercial, porém  do meu jeito. Shoujo era o que estava na moda e preto e branco porque era mais fácil de fazer e mais barato na hora de imprimir os fanzines. Surgiu uma ideia que parecia bem redondinha na minha cabeça: meninas shoujo em situações mais grotescas.

Outra ideia inicial que eu tinha era o de fazer o traço dessas menininhas delicadas com a pena de madeira, pois eu acabava de ler um álbum de Cláudio Seto (Flores manchadas de sangue) onde ele conta como ele desenvolveu o seu traço para as histórias de samurai: com a pena de madeira, que dá uma linha mais orgânica e rude do que a fina, sutil e precisa linha da pena de metal. Era uma ideia de contraste, queria que o leitor estranhasse aquele desenho bruto para a representação de figuras delicadas.

A teoria foi por água abaixo logo na primeira página: eu não tinha tempo para fazer o rascunho, criar os moldes das personagens para só depois passar a nanquim. Outra coisa: eu tentava e tentava e não conseguia fazer este bendito traço shoujo; como vocês podem ver, em algumas páginas onde aparecem torcedores do Inter com rosto, nota-se claramente a minha fracassada tentativa de fazer o estilo mangá. Esquece, desisti logo na história seguinte, que seria "No Instituto Max Planck" (que seria feita mais na pressa ainda).

Para uma história inicial, eu resolvi unir aquilo que a maioria dos brasileiros gostam: futebol. Esse negócio de elas serem gaúchas também era um must que eu já tinha em mente: na verdade, a vontade era a de que todas as histórias fossem no Rio Grande do Sul, e que elas tivessem nomes fixos. Posto em outro dia sobre esse assunto dos nomes.

Nessa história, basicamente eu faço uma espécie de coletânea dos cânticos do Inter (tem mais, só consegui por alguns), que marcam o tempo e o clima do jogo, ou seja, o foco é na torcida, ao invés do jogo ou do time. Eu fiz um final bem comum, que são os comentários dos torcedores pós-jogo, porque eu acredito que uma hq deve ser lida pelo começo e pelo meio também, não apenas para aguardar a sacada final que geralmente causa um riso.

Em resumo, trata-se de uma hq que narra um dia de domingo comum de um porto-alegrense, cujo único estranhamento é o fato de ter sido protagonizado por três gurias de cinco anos.