Sobre "Holanda, a terra de ninguém"

A minha primeira tentativa de uma "graphic novel", pois segue uma ordem cronológica de capítulos, com um começo, um meio e um fim, mas eu não segui o que eu tenho batido tanto a tecla em posts anteriores: eu não sei como o roteiro vai seguir simplesmente porque ele não existe. Na verdade, ele até existe: eu pretendo imitar o desenrolar da história da Odisseia, e a primeira parte, a Salamaquia (que é claramente uma alusão à Telemaquia, a "primeira parte" da Odisseia) conta a saga do almirante alemão Georg-Faust Salamander em busca da dominação do Mar do Norte. Nem preciso dizer que eu ainda não terminei de fazer, mas eu tenho muitos planos para Holanda.

Escolhi este título porque ela se passa em um futuro onde a Holanda foi coberta pelo mar, e tudo o que resta é algumas plataformas de madeira flutuante, e, é claro, a sua memória. Na história ela representa a ideia de nação.

Já sei qual vai ser o foco principal da segunda parte, ou pelo menos o clímax da Salamaquia, e já sei como vai terminar. Mas eu gostaria de tocar em outro assunto neste tópico de hoje: como fazer melhor histórias em quadrinhos.

É muito comum alguém que está aprendendo a fazer, por exemplo, desenho e pintura, perguntar, "como é que se desenha uma árvore?", ou "como é que se dá um efeito de céu?", ou ainda "como é que se desenha um dragão?". Normalmente o professor ensina "é assim" e o aluno sai todo feliz porque aprendeu a fazer o que queria, ou então ele olha alguma hq, pintura e/ou ilustração e imita o jeito. Talvez funcione, mas, o que muitos professores que eu tive da faculdade têm me ensinado, e os fatos me levaram a concordar, é que não se ensina a desenhar. Não se ensina a desenhar uma árvore, assim como não se ensina a fazer um céu; ele te ensinou a fazer um dragão? Que fantástico! Eu nunca tive o privilégio de ter um professor que já viu um dragão.

Você já viu um dragão? Eu nunca vi um, assim como acho que ninguém nunca viu um. Um dragão pode ser o que você quiser. Não existe receita para desenhar essas coisas, é uma questão de mensagem. Quer mesmo que o leitor veja e pense "isso é um dragão"? Muitas vezes o seu dragão não é um dragão pro fulano e isso simplesmente não importa. 

Se você quer desenhar algo que existe, recomendo que observe e entenda a "alma" daquilo que quer desenhar ou pintar. O que faz de uma árvore uma árvore? O que faz do céu o céu? A partir do momento que sua estrutura é entendida, você pode fazer a árvore e o céu que quiser. É o tal do poder do Scylar de um seriado chamado "Heroes": ele entende como as coisas funcionam, logo ele pode recriar o que ele quiser. É a velha diferença entre o decorar e o aprender que os professores do ensino médio tanto falam. Você pode ser um bom executivo de uma empresa decorando os manuais de economia e de administração, mas a partir do momento em que entende como o mercado, uma sociedade e uma economia funcionam, você pode criar uma empresa e, se as leis da natureza permitirem, ir além e revolucionar.

Logo, vale a regrinha para qualquer área de trabalho: quanto mais entendemos de uma certa coisa, melhor essa coisa tende a ser, o que implica que, quanto mais entendemos de histórias em quadrinhos, melhor ela tende a ser; e entender de histórias em quadrinhos implica em entender de desenho, de composição, de roteiro, e, se quiser ser comercial, entender de mercado.

Espero aprender ainda mais para fazer hqs ainda melhores.